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Boas Práticas Programa ‘Aula em Casa’ do Amazonas disponibiliza conteúdos didáticos via tevê aberta e canais digitais abr | 2020
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Buscar soluções para garantir o direito à educação básica a estudantes em regiões de difícil acesso sempre foi um desafio para os governos amazonenses. Em meio à maior floresta tropical do planeta, o estado é recortado por rios e possui dezenas de comunidades ribeirinhas espalhadas por seu território.

“Por ser um estado muito grande e enfrentar uma logística complexa na educação, há 13 anos implantamos o Centro de Mídias de Educação do Amazonas (Cemeam) para atuar com o Ensino Mediado por Tecnologia. Dessa forma, as aulas ao vivo são transmitidas diariamente, via satélite, para as comunidades ribeirinhas e rurais. São mais de 34 mil estudantes atendidos em mais de 2 mil unidades de ensino”, conta o secretário de educação do Amazonas, Luis Fabian.

Até que o ano 2020 impõe ao mundo desafios que exigem soluções urgentes. Frente ao atual cenário de crise na saúde pública, pressionada pela pandemia do novo coronavírus, o Covid-19, surge o Aula em Casa, uma resposta emergencial para a rede estadual do Amazonas, a qual suspendeu as aulas presenciais no dia 17 de março. O projeto é parte do regime especial de aulas não presenciais regulamentado pelo Conselho Estadual de Educação (CEE)*, entre outras instâncias, durante a pandemia do novo coronavírus.

Assim, por meio de um Termo de Cooperação Técnica firmado entre a Secretaria de Estado de Educação e Desporto e a Secretaria Municipal de Educação (Semed), surge a parceria que levará conteúdos didáticos aos alunos das duas redes: municipal e estadual da capital e mais quatro municípios. A secretaria estuda, ainda, um desenho de convênio com outras emissoras de televisão para alcançar os 62 municípios do Amazonas. Dessa maneira, possibilita a continuidade dos estudos fora do ambiente escolar presencial causado pelo isolamento social – ação recomendada pelas autoridades da saúde pública para combater a fase mais crítica do contágio. Um exemplo claro de colaboração entre redes na educação, envolvendo a capital amazonense e o Estado.

“O programa é uma prática que demonstra a colaboração entre as duas esferas. Inicialmente, o Aula em Casa atenderia somente 180 mil estudantes da rede estadual do ensino fundamental (anos finais) e ensino médio. Buscando ampliar e atender não só estudantes da rede estadual, buscamos uma parceria a Secretaria Municipal de Educação (Semed) de Manaus para que pudéssemos produzir conteúdo de 1º ao 5º ano, atendendo não só os 40 mil alunos da rede estadual, mas os 180 mil estudantes de todo o ensino fundamental da rede municipal. Hoje, o projeto tem como meta alcançar 250 mil estudantes no Amazonas”, explica Luis Fabian.

Centro de Mídias, Amazonas e o projeto Aula em Casa

Há 13 anos, o Centro de Mídias de Educação do Amazonas (Cemeam) atua com o Ensino Mediado por Tecnologia. Crédito: Cleudilon Passarinho

O regime especial e remoto são modalidades diferentes para boa parte dos professores. Nesse momento, o trabalho busca envolver os docentes para que os conteúdos transmitidos sejam validados posteriormente, em sala de aula. “Nesse sentido, as duas secretarias têm tido um duro trabalho de mobilizar os professores para auxiliarem os alunos e seus responsáveis nesse processo”, considera o secretário.

A avaliação positiva da parceria, também aparece na análise da equipe da Secretaria Municipal de Educação de Manaus. De acordo com a subsecretária municipal de gestão educacional, Euzeni Araújo, quando o município precisou suspender as aulas presenciais, as principais lideranças da pasta se reuniram para pensar saídas para a crise. “Tínhamos certeza de que a educação não podia parar e de que o fluxo de aprendizagem precisaria ser mantido. Observamos também o quanto de aprendizado isso iria nos gerar, ao romper com o modo tradicional de educação ao qual estávamos acostumados. Um romper de paradigmas. Tínhamos a certeza que aproveitar a expertise do Centro de Mídias em levar educação aos lugares mais remotos seria uma saída para nós.”

A gestora acredita que esse termo de cooperação técnica é uma grande oportunidade para o fortalecimento do Regime de Colaboração entre a rede estadual e a municipal de educação. “Sob liderança da secretária da Semed de Manaus, Kátia Helena Schweickardt, desenvolvemos um trabalho em cascata, de ambas as secretarias para os diretores das escolas, desses para os seus professores e dos docentes para os seus alunos e famílias. Estamos certos de que se trata de uma situação em caráter emergencial e acredito que o retorno nos deixará mais solidários e humanos, pois conseguimos enxergar melhor o outro pela distância.”

Aulas na tela da tevê

As aulas da rede estadual de ensino foram viabilizadas a partir de uma parceria com a TV Encontro das Águas e serão transmitidas em três canais da televisão aberta e em plataformas online. Assim, os estudantes têm aulas em horários determinados na tevê aberta, ou por sites e aplicativos, onde também podem interagir e tirar dúvidas.

As aulas são gravadas no Centro de Mídias de Educação do Amazonas (Cemeam), da Seduc-AM. A rede estadual é responsável pelos conteúdos produzidos para as turmas de 6° ao 9° ano do ensino fundamental e 1° ao 3° ano do ensino médio, e a rede municipal para as de 1° ao 5° ano, do nível fundamental, e as atividades para educação infantil, como jogos, contação de histórias e brincadeiras, dentre outras.

Centro de Mídias e projeto Aula em Casa, em Manaus

O programa Aula em Casa é gravado no Centro de Mídias de Educação do Amazonas (Cemeam), da Seduc-AM. Crédito: Cleudilon Passarinho

A mãe de Vinthenzo Alencar, Mônica Almeida, moradores de Manaus, diz que tanto ela quanto o garoto se adaptaram bem à nova rotina. Seu filho é aluno da escola municipal Professora Gelcy Sena Abrantes e está no 5° ano do ensino fundamental.

“Com essa iniciativa, percebemos que eles [gestores da Educação] estão sim preocupados com os alunos. Meu filho está se saindo bem nas atividades. Todos os dias temos trabalhos. Os professores dele não deixam a desejar e não dão descanso”, brinca. Mônica conta que a comunicação com a equipe escolar acontece por meio do WhatsApp. “Tiramos nossas dúvidas e eles nos dão retorno sobre as atividades e os trabalhos feitos em casa.”

A mãe se diz preocupada, mas reconhece que se trata de uma ação emergencial para que as crianças continuem estudando. “Não é o ideal. É claro que nada substitui a escola. A carga horária é menor, mas é a forma que encontraram para seguirmos em frente. Acho muito válido.”

‘Aula em Casa’ do Governo do Amazonas vai beneficiar 3,5  milhões de estudantes de São Paulo 

A colaboração também extrapolou os limites do Amazonas e pode marcar uma experiência inovadora nesse sentido entre entes federativos. Por meio da Secretaria de Estado de Educação e Desporto (AM), foi assinado um Termo de Cooperação Técnica com o Governo do Estado de São Paulo e Secretaria Estadual da Educação de São Paulo, para que sejam utilizados os conteúdos que estão sendo transmitidos pelo projeto “Aula em Casa” para os mais de 3,5 milhões de estudantes paulistas. Com a parceria, as aulas não presenciais ficarão disponíveis aos paulistas já a partir desta semana aplicativo do Centro de Mídias SP.

O secretário do Amazonas, Luis Fabian, destaca que a importância nessa contribuição é a conexão interestadual, que promove o intercâmbio de informações que podem ser utilizadas pelas duas equipes para melhorar as metodologias. Fabian conta que, além de São Paulo, foram firmadas parcerias com o Espírito Santo e Sergipe. Os dois estados terão acesso aos conteúdos para disponibilizar aos alunos das redes estaduais locais. Distrito Federal, Santa Catarina e Pernambuco têm consultado a equipe pedagógica amazonense para poder finalizar as suas propostas e diretrizes pedagógicas.

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