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Entrevistas Gestores públicos buscam articular ações para garantir o acesso à educação em meio à pandemia jun | 2020
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Gestores educacionais de todo o Brasil têm enfrentado uma desafiadora maratona para atravessar este período de crise causado pela pandemia de Covid-19. O impacto nas redes de ensino foi brutal e exigiu das equipes que atuam nas Secretarias de Educação medidas emergenciais e planejamento de curto, médio e longo prazos. Com escolas fechadas, dificuldades para garantir o ensino remoto e a conclusão do ano letivo em risco, a saída para encampar ações efetivas passa pela colaboração: entre pastas da mesma gestão, entes federativos, municípios vizinhos e demais atores de outros campos da sociedade civil.  

O Movimento Colabora Educação traz para o centro do debate os desafios e experiências de municípios deste Brasil tão diverso. Conversamos com dois dirigentes municipais de Educação para entender como está sendo este período de pandemia. Nesta primeira conversa, apresentamos a vivência e as expectativas de Neuza Calheiros, secretária de Educação do município Barra de São Miguel, em Alagoas.  

Neuza conta que, desde que a pandemia mudou a realidade de seu trabalho, busca articular ações em parceria. “Alguns dos municípios vizinhos são integrantes do Conisul [Consórcio Intermunicipal do Sul de Alagoas]. Estamos nos reunindo semanalmente, por aplicativo, para trocar experiências relacionadas às dificuldades desde o mês de março, quando suspendemos as aulas. Estamos sempre levando para a reunião as experiências exitosas de algum dos membros, fazendo as trocas para conseguirmos passar por essa situação inusitada que estamos vivenciando.”

O caso é simbólico. Trata-se de um município que leva a sério o Regime de Colaboração e, há mais de cinco anos, participa de um consórcio. A gestora relembra que, desde que os 17 municípios associados se reuniram na Câmara Técnica de Educação do Conisul, o vínculo entre vizinhos se fortaleceu e a troca – de experiências e angústias – se tornou constante. 

“Nós, da Barra de São Miguel, somos um dos menores municípios em tamanho de rede escolar, mas que vem crescendo em qualidade. Aprender com os maiores, como eles trabalham, no que se destacam e quais são os caminhos que percorreram para chegar onde chegaram nos torna, além de mais fortes, mais iguais. Nos mostra o caminho para alcançarmos o sucesso. Sentimos que nossos problemas, na verdade, proporcionalmente, não são tão diferentes dos deles. Isso, de fato, faz toda a diferença no enfrentamento dos desafios”, avalia.

Neuza Calheiros, secretária de Educação do município Barra de São Miguel, em Alagoas

Neuza Calheiros, secretária de Educação do município Barra de São Miguel, em Alagoas

Além da troca de informações, os municípios do Conisul realizam compras compartilhadas – como de material escolar e mobiliário escolar – e idealizam e promovem seminários e formações diversas. Juntos, ainda, participam do programa Melhoria da Educação, iniciativa da Fundação Itaú Social para fortalecer gestores municipais de modo a contribuir com o aprimoramento dos processos e das estruturas de gestão educacional.

A avaliação da secretária se alinha à maioria dos gestores com os quais o Colabora já conversou: existe boa intenção, em geral, nos estados, mas pouquíssimo apoio do Governo Federal. “O Governo de Alagoas vem fazendo diversas reuniões e palestras sobre a pandemia, sempre em conjunto com a Undime, que vem numa grande batalha para minimizar os efeitos da crise. Agora, quanto ao Governo Federal, sentimos uma distância. Podemos dizer que, como apoio, enviaram uma verba do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) para que as escolas adquirissem álcool em gel e outros produtos de higiene. Porém, em outros desafios, estamos bastante perdidos. Estamos fazendo o que podemos para cumprir a meta de 800 horas [carga horária mínima anual], criando estratégias de aulas remotas para as nossas crianças, jovens e adultos, mesmo entendendo que não atingiremos os 100%.”

 

O cenário atual: enfrentamento à pandemia 

A cidade de Barra de São Miguel ainda está com as aulas presenciais suspensas e tem atuado com a estratégia de ensino remoto para manter o vínculo com os estudantes. Para definir modelos de trabalho, realizaram diversos diálogos com os vizinhos e buscaram embasamento teórico, prático e legal. Os municípios de Teotônio Vilela, Junqueiro e Campo Alegre conduziram um estudo para a execução das aulas remotas com amplo descritivo de decretos, resoluções e registros, entre outros marcos legais que orientam a prática. 

Atualmente, o olhar começa a buscar novos horizontes. A volta às aulas presenciais é pauta de discussões com o Governo do Estado, Conselho Estadual de Educação, Undime e Conisul. “Apesar das conversas, entendemos que tudo ainda é muito inicial. Não temos data e tampouco certeza de como ficará a questão de reposições presenciais futuras. Essa discussão está apenas iniciando. Estamos estudando como fizeram em outros países para nos enquadrarmos por aqui.” 

Sobre o futuro, apesar das incertezas, Neuza Calheiros espera que a humanidade saia transformada, e para melhor. “Acredito que não seremos mais os mesmos após essa situação. Estamos vendo o meio ambiente respirar – aqui na Barra, em nossas praias, as tartarugas estão fazendo ninhos em toda a costa, quando antes isso só acontecia em lugares pouco movimentados. Acredito que as famílias vão aprender muito a valorizar o trabalho das escolas e a participar mais, já que hoje eles estão sendo fundamentais para que as aulas remotas aconteçam. Penso que as pessoas irão valorizar mais o abraço, o carinho, o toque físico e entender como isso nos faz falta. Especificamente nas escolas, aprenderemos que o uso da tecnologia, que estávamos sempre adiando, será, a partir de agora, essencial para a aprendizagem. E acredito que muitos de nós entenderemos definitivamente o valor da vida.”